sábado, 25 de abril de 2009

OMULU EM ANGOLA

Omulu ou Viango um dos mais velhos inkisse ou oríşa, hoje cultuado em várias casas de candomblé, independente da nação que o professe, foi um dos primeiros deuses a pisar na Bahia, segundo alguns curandeiros do século passado. O difícil é encontrar uma casa nos dias hoje, que ainda tenha sua cultura obedecendo ao seu primitivismo com seus seguidores se curvando a seus princípios para poderem assim usufruir de seus poderes. A explicação esteja talvez, no cuidado e na responsabilidade de ter este deus em um barracão obedecendo a moldes antigos. Os tópicos a seguir retratam a forma em que este deus e suas qualidades eram cultuados no inicio do século passado. Acredito que a maioria das casas para cuidar destes inkisses atualmente procure se adaptar aos dias de hoje, sem perder a sua essência, é o que espero.

Omulu – Tempo Junso

O mais novo Omulu, conhecido em todos os barracões de Angola em todos os recantos da Bahia. Seus apetrechos se resumiam em uma lança de madeira, medindo entre 40 e 50 cm, feita a haste em madeira de loco e a lança da ponta em iputumuju (que segundo alguns curandeiros esta madeira além de ser nobre era mística). Trazia uma cabaça e um bocapio (uma sacola grande feita de palha) contendo suas bugigangas.
Seu assentamento era conhecido por ter três cabaças pequenas, vinte sete búzios e três lanças (em alguns casos lanças de ferro e outras de pedra). Levava cuscuzeiro, mas não levava massa, sendo obrigatório ter em seu assentamento três moedas de cobre, contendo cada um pouco de plasma colhido de um corpo sem vida.
Suas roupas eram desfiadas nos lugares em que a sua doença apodreceu suas carnes, deixando seus ossos descobertos. Suas cores preta e branca, em alguns lugares usavam o amarelo e o preto. Laguidibá preto.

Omulu – Tempo Junsun

Conhecido nos terreiros dos antigos angolões. Sua bugiganga se resumia a uma bengala feita de loco com a ponta da lança em iputumuju, a qual ele carregava no ombro e nela pendurava sua trouxa de lona com seus segredos e seu material. É de autoria dele o ditado que diz: “o poder da missa afasta os pequenos males de senzala”. Por isso trazia uma cruz sobre o seu chapéu. Era conhecido por trazer no pé dois guizos e no seu assentamento três cruzes, sete lanças e uma bandeira, não podia faltar sete moedas de cobre com egum cada uma. Pegava cuscuzeiro, mas não pegava massa. Sua roupa só eram farrapos nos lugares em que a doença já havia comido suas carnes, deixando a pele e os ossos pintados. Suas cores: preto e branco. O seu laguidibá: amarelo e preto.
Seu assentamento: quatorze alguidares, nove colheres de pau, um porrão. Sua roupa características deveria lembrar um homem carregando algo nas costas.
Suas folhas: cajá, cajarana, cajueiro branco, pode usar as folhas de seus irmãos perfazendo um total de nove folhas e mais a folha primordial para os três: o sangue lavô.

Omulu – Tempo Cavunge

O mais velho dos Omulus, conhecido pelos velhos angolões. Sua bugiganga se resumia a uma bengala na qual trazia pendurada uma trouxa, uma cabaça e um bocapio. Em seu chapéu carregava uma pomba, e tinha outra pousada em sua bengala, que deveria ser apoiada no chão; primeiro pelo peso do material amarrado e segundo para servir de apoio para o peso de seu corpo. Era conhecido por trazer no pé três guizos e seu assentamento conter sete cabaças, sete lanças, três bandeiras simples e um com uma pomba em cima, setenta e sete búzios, quatorze moedas de cobre (com egum em cada uma). Pegava cuscuzeiro, mas não pegava massa. Seu assentamento tinha dezessete alguidares para sua formação pessoal, nove colheres de pau e um porrão. Suas roupas eram todas desfiadas por seu corpo não restando lugar para roupa comum, pois a doença já havia tomado todo o corpo dele. Tinha por contraste um cão gordo para fazer sua vez no que diz respeito à doença. Ele curava o povo e o cão o curava. Suas folhas são três qualidades de carrapicho e o sangue-lavô (cana do brejo). Seu assentamento tinha o formato de um homem com a bengala apoiada no chão e com as bugigangas penduradas.

Obaluayê

Obaluayê, Kajanjá ou Kaviungo um ser atrofiado que desde sua infância se dedicou a vida no cemitério para estudar a morte de todos que fossem pra lá. E assim teria se criado sendo difícil conversar com ele dentro de uma casa. Oríşa raro, pois para se conseguir alguma coisa dele quando possuía uma pessoa, teria que levá-lo para o tempo e acender várias velas ao seu redor e também em quem estivesse junto. Às vezes era preciso cobri-lo com um alá para então se formular algum pedido e também oferecer um presente.
O seu assentamento é muito difícil, pois ele nesta cultura representa o verdadeiro Baba Regun e tem que ser guardado por trezentos e sessenta e cinco eguns, todos em moedas de cobre, uma caveira, nove lanças, nove cabaças, nove punhais, dezenove alguidares, um porrão, quatorze colheres de pau. Tudo para dar o formato de atrofia e mais terra de vários lugares. Em seu pé levava três guizos.
Suas cores: preto, vermelho e branco ou preta e vermelha. Não usava roupas, embora as tivesse, tanto quanto os outros, mas só usava tanga, pois a atrofia atrapalhava para se vestir. Suas f olhas são: dendezeiro, bambuzal e a jaqueira, pois todas as suas folhas são refúgios para egum. Também se complementa com as folhas dos outros Omulus e eles se complementam com as suas dependendo do momento e do ato a ser realizado.
Devo esclarecer que o que está descrito é simplesmente a respeito de Omulu-Viango, pois estes assim eram chamados e conhecidos. E não TEMPO, este como inkisse que também é cultuado em toda Bahia e em outras partes do Brasil, por quem tem conhecimento destes inkisses, que são:
TEMPO LAMBARÁ, TEMPO ZARÁ, TEMPO DA BURIGANGA, TEMPO PEREPEPE, TEMPO MACURA DE LÉ, TEMPO TAPERUÁ, TEMPO Z+Ê.
Tendo ainda em alguns barracões o culto de outras qualidades do inkisse Tempo, possuindo em todas as casas de Angola, uma bandeira branca hasteada em sua homenagem, a qual teria por princípio que estar sobre uma árvore frondosa, além de ter em seus galhos muito enfeites coloridos amarrados. No chão ligado ao seu tronco, o assentamento deste inkisse, que possuía: um fogareiro a lenha, uma grelha trempe com uma haste regular, sobre esta uma bandeira com um pássaro, um pote, uma moringa, três quartinhas, um alguidar médio com uma jarra de barro contendo o otá e outros segredos. Sem contar com setenta e sete ides, trezentos e sessenta e cinco búzios, setenta e sete moedas de cada metal, obi, orobo, jalapa e dendê. Todo este assentamento, colocado sobre porrão vestido com todas as cores, pois este inkisse representava tudo, porque para tudo se precisa dele. Quero salientar que muitos barracões cultuavam este deus com menos material que o descrito, porém tendo para isso um quarto reservado a Tempo e representado por um galo arrepiado e outros objetos.
Em relação a feitura, este inkisse era e é muito complexo.
Primeiro: em mil pessoas se encontra um que seja realmente dele.
Segundo: não se pode contar com abrigo nenhum, pois terá que ser feito sob o tempo, embaixo de uma árvore que combine com o mesmo.
Observação: Não confundir Omulu de origem bantu com Omolulu de origem sudanesa.
Devo esclarecer também que a respeito do egum nas moedas de cobre: os curandeiros sempre colocavam uma moeda de cobre na boca de uma pessoa moribunda porque assim tinham a certeza que a moeda de cobre absorvia o ectoplasma dessa mesma pessoa em seus momentos finais. O processo de multiplicar essa moeda para a quantidade desejada é um segredo do culto a estes inkisses.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Os Bantus

Tendo o privilégio de contar com três comunidades de culto bantus no seio de minha família, isso sem contar com as de Tata Minalê e Mina Munanguê entre outras.sinto-me felicíssimo da vida, pois estes foram os cultos que não deterioraram, os quais após cumprirem os seus objetivos silenciaram: “o saber morreu com seus donos”, a saber:
_Primeiro porque não fizeram sincretismo com os santos da Igreja Católica como ocorreu com os do norte e sul da África.
_Segundo porque não espalharam lendas sobre seus inkisses impossibilitando assim que os mesmos tornassem produto de lendas com interpretações duvidosas.
_Terceiro as pouquíssimas lendas que se tinha sobre eles estavam interligadas ao sistema universal, assim como as três fases da vida de Òşun (Seci, Kalomi e Kaluanda); as três fases da Lua; as três fases da vida, etc., todos unidos a Kizanza o Mar, Kitembu o Ar, Mbeji a Lua, Kiluanha ou Dikumbi o Sol, Dibia ou Mavu a Terra, Andomba a Sombra, e assim por diante. Da união destes pólos que se originaram os inkisses do povo bantu.
Não se pode deixar de citar um sincretismo obscuro iniciado quando os bantus absorvem parte da cultura e dos cultos de povos do norte da África.
Os povos do norte da África emigrados para o sul (os jejes, os fons, os ewes, os fantis, os ashantis, etc.) rotulados de nagôs, conseguiram implantar seus cultos primitivos no norte do Brasil, porém no nordeste tiveram que se aliarem aos bantus para poderem sobreviver culturalmente, e foi neste ponto que surgem as pouquíssimas lendas sobre os inkisses. E é neste contexto que surge Ògún de Ronda, que mais tarde silenciado daria o seu lugar para Ògún Já do povo jeje, tendo este mais tarde sendo confundido com Ògún Meje.
A história de Ògún de Ronda em alguns pontos se equipara com a de Orugan, filho de Yemaja e Oshala nos cultos sudaneses, pois ambas retratam a paixão e o desejo carnal. Em uma das histórias ou lendas, como preferirem, de origem sudanesa, Orugan (hoje Exu) filho de Oshala e Yemaja passa a ser considerado Deus da Fertilidade, da Libido, da Sexualidade, depois de possuir a força sua mãe Yemaja transformando-se assim no pai dos dezesseis ou dezessete deuses do Panteão Africano. Yemaja com todo o seu desespero, pavor, vergonha torna-se a mãe amorosa desses deuses e ao mesmo tempo esconjura e amaldiçoa o seu primogênito Orugan.
Enquanto que Ògún de Ronda em uma de suas lendas de origem congolesa, e estabelecido nos cultos dos kabulas (bantu) é filho de Vilamavumbi (Vila-Ma-Nzumbi), o Senhor dos Mortos e Mangana-Menha Ma Kianbote, a Senhora das Águas Doces.
Para que possamos entender um pouco sobre o inkisse Ògún de Ronda precisamos entender seus progenitores teogônicos.
Seci, Kalomi, Kaluanda assim é Iza-Kitala (Òşun) nas três fases de sua existência, sendo que, estas fases representam um todo, em todos os aspectos, diferente do que alguns zeladores contemporâneos e seus seguidores professam dando passagem, estadia ou a terra natal das divindades sudanesas como qualidade dessas mesmas divindades.
Para os bantus isto não existe. A existência é universal não importando se a lua é nova, cheia, minguante ou crescente..., lua é sempre lua. Ou seja, Seci, Kalomi, Kaluanda embora nas divisões de angola ela receba os codinomes de Cinda, Tambalacinda, Iza-Kitala, Rerê é uma só, simplesmente Òşun como é chamada pelos sudaneses. Olhando ainda através do sincretismo bantu sudanês temos Òşun como Kilumba Kizanza e Nga-Muhatu: A Filha do Mar e Senhora dos Rios. Um dos lamentos dirigidos a ela:
Kizanga (Kisanga) nua alôni
Sa aloni kaiangô ô
Ya Lôxun tanua lôni
Sa aloni kaiangô

O Lendário Ògún de Ronda

Diz a lenda, que Seci (Kaluanda, Kalomi) era madrinha e mestra de Vila-Ma-Nzumbi e que todos os dias ao cair da tarde ela surgia na beira do rio para instruí-lo sobre as coisas da vida, mas com o passar do tempo Vila-Ma-Nzumbi se apaixonou por ela, que por várias vezes o recusou, porém já conhecedor dos feitiços e mandingas e muito sagaz, e aborrecido com as constantes recusas dela, uma tarde em que estavam juntos, Vila-Ma-Nzumbi recorre a Kilundu Kitembu Mbundo, o Espírito Negro do Ar que faz a tarde escurecer, e o rio ficar revolto, acarretando assim grandes perigos para o retorno dela ao fundo do rio, a titulo de protegê-la ele se aproxima dela e a possui provocando com isso mais fúria nas águas do rio. Após a revolta das águas que abriu vários braços do rio, e passado o negrume da tarde, estabiliza-se a calmaria e Seci desperta do torpor na qual mergulhara, mas sente-se presa a terra, o calor lhe abrasava o corpo, ao perceber a parca presença de Kilundu e a satisfação transformada em perversão no rosto de seu protegido, e se sentido mulher e mãe, ela então em seu primeiro momento de ira e revolta ela desabafa proferindo as seguintes palavras:
Xé ixi kumbuka kiki, ngiji, e lanje kiá ndomba, kubanza kuala mueneué.
Tu jamais atravessarás estes rios, e nem tua sombra se refletirá sobre ele.
E continuou:
Bu ama menha a-um-loko kuala éie
Sobre estas águas maldito serás tu.
E desabafou:
Kukuata mutu xé, kuala kioso, kalunga mbe, kiami xitu kuta mbula kia kilulu, ixé, kima dilamba luê, izudidiku kié muene-muene eme.
Condenado serás tu por toda a eternidade, pois meu corpo conceberá a tua alma, e tu serás a praga que perseguirá seu próprio eu.
Segundo a lenda todas as manhas ela emergia do rio para cantar para seu filho Kifumbi Kijetu, O Guerreiro das Rondas, ou seja, Ògún de Ronda, como seria a vida dele sobre a terra. Este inkisse metade homem santo metade demônio. Sua morada é no meio das ruas, não precisando de casa para se abrigar, pois sua morada permanente é no meio das encruzas.
Quanto a Vila-Ma-Nzumbi diz a lenda, que ele foi absorvido pelas sombras negras do céu e viveu eternamente entre elas. Nas crendices dos cultos do Angola e algumas de suas facções não se alimentava qualquer que fosse o Exu em noites claras e não se colocava nem despachos e nem oferendas no meio das ruas, estradas, encruzilhadas ou caminhos, pois os exus não conseguiam receber, pois lá estava o Guerreiro das Rondas pronto para castigá-los, portanto com suas lanças, obrigando-os assim a viverem pelos cantos, sem terem condições de se aproximarem. Logo, todas as oferendas destinadas a qualquer Exu postas nestes lugares eram, são e sempre serão Ògún que as recebe.
Ògún de Ronda um legado da seita dos Kabula (ou maçonaria africana) para as facções do Angola, de certa forma foi extinto para dar lugar a Ògún Já e Ògún Şoroke, dos cultos ketu e jeje.
A seita Kabula e sua facção o Giro, começavam os seus rituais cantando para Ògún de Ronda assim:
Seu Ògún não é mê, é de iaiá
Já mandê na Bahia assentá
Já mande logodô levantá
Seu Ògún não é meu, é de iaiá}bis

Ògún de Ronda é de amoraciii
E katula vira inganga êê
Ele é xetruá ê
Obs. Tempos depois passaram a usar este mukumbi (cântico) para Ògún –de-Lê.

Ògún de Ronda já mandê rondá mariô
Ele vai pá ronda já mandê rondá mariô

Ògún, Ògún tatará
Tenha dó de mim
Tenha dó de mim tatará
Tenha dó de mim
Ou
Ògún, Ògún tatará
Kuina henda e eme
Kuina henda e eme tatará
Kuina henda e eme

Ògún de Ronda o eterno guerreiro, o encarniçado perseguidor dos exus, o eterno protetor dos mendigos e dos bêbados, alcoólatras, o juiz justo dos zombadores e profanadores. É um inkisse que requer muito cuidado, tanto na forma de cultuá-lo como em sua feitura, pois para tal tem que ser Exu escravizado por Ògún, tendo para tanto que assentar Òşun.
Não pode ser feito dentro de casa e nem permanecer o seu assentamento dentro de casa. Para a sua feitura é preciso muito conhecimento e prática, tem que ser tudo muito bem dividido, sem que a balança penda mais para um lado. Também tudo duplo do kele aos bichos, na maioria dos casos não é possível se fazer este inkisse sem se sacrificar para tal ato um cachorro, para se completar suas obrigações.
Suas ferramentas são: uma espada, uma lança e um obé-fará. Para suas vestes, do lado direito é uma roupa simples, do lado esquerdo em alguns lugares é cheia de nozes.
Suas comidas tanto podem ser as comidas comuns de Ògún, como os despachos feitos para os escravos e postas no meio da rua.
À Ògún de Ronda todos os exus prestam satisfação dos atos praticados durante o dia, e ele por sua vez, presta satisfação a quem de direito. Os filhos desse inkisse são destemidos e temidos, quando cuidam dele conseguem tudo que querem na vida, todavia quando não cuidam geralmente se acabam no meio das ruas. A maior parte dos filhos dele em tese carregam a maldição das águas, sendo que uns pagam quando jovens e outros quando velhos, mas no fundo são pessoas boas para se lidar.

sábado, 7 de março de 2009

A Semana do Povo que Cultuavam a Nação Angola e Suas Crendices

1.Segunda-feira: este dia era dedicado a Exu e embora eles no tivessem medo e sim respeito por ele, não emprestavam nada de uso pessoal, pois poderia ser usado para fazer bruxaria. Da mesma forma era com o dinheiro, eles diziam que o dinheiro era cruz e assim era impossível alguém apanhar dinheiro emprestado neste dia da semana que não fosse para batizá-lo e usá-lo como um amuleto pessoal e como forte arma para destruir seu próprio dono. Assim também era com os visitantes deles, mesmo os parentes eram recebidos e despachados com sal e cinza.
2.Terça-feira: não passavam pelo meio da encruzilhada em respeito à Ògún de Ronda, por ser ele dono das encruzas e o inkisse que responde por Ògún e Exu, o dono da metamorfose. Ogún de Ronda o rei, o deus dos exus e o dono dos frutos de ramas, que também eram proibidos neste dia de serem comidos, como não também os legumes de rama.
3.Quarta-feira: era o dia do fogo, logo não se emprestava nada que fosse originário do fogo. Guardavam este dia com muito carinho a Yansan e em muitos lugares não se acendia fogo, sendo tudo feito na terça-feira, conservando durante o dia e a noite sobre um grande braseiro que eles cobriam com areia para usá-lo, deste modo, na quarta-feira.
4.Quinta-feira: evita-se tudo que fosse buchada, tanto para comer, para se comprar, como para vender, ou mesmo para dar ou receber, porque a maior parte dos negros fazia almoço de miúdo no dia Xangô e assim eles estavam respeitando, e não evitando. Eles sabiam que podiam estar contraindo uma feitiçaria através deste material, porque Xangô foi mercador deste material (pelos que cultuavam o Angola e suas facções).
5.Sexta-feira: este dia continha o maior preceito e respeito possível, era dedicado a Oshala e por isso não batiam em criança, não varriam casa, não colhiam mato ou outra coisa qualquer. Não sacrificavam animais nem bichos peçonhentos. Muitos adeptos não tomavam banho neste dia. A maioria deste povo dedicava este dia as orações e jejum evitando assim o contato com qualquer coisa possível, e muitos ainda diziam “hoje é dia de Lembá, Deus de tudo e de todos”.
6.Sábado: dia de reuniões. Dedicado a trabalhos de magia. Todos estavam presentes para fazer sacudimento de possíveis males contraídos no meio da semana, então faziam comida para Egun como: verduras, legumes, arroz, feijão, enfim um pouco de tudo que tinham para comer para oferecer a Baba-Regun.
7.Domingo: o dia de todos, festa para todos. Este dia era deles. Eles sabiam que nada podia acontecer porque os inkisses tinham permitido que chegassem ao fim daquela semana, sem maiores novidades e isso graças a sua crença, a sua fé neles.
Além disso, tinham outras quizilas como:
_ Não passavam debaixo de cercas, corda de roupas, escadas, etc.
_ Não podiam ver enxada, faca, facão e foice, ou nada de corte com o gume pra cima.
_ Não davam uma topada que não falassem “Deus lhe salve”.
_ Suas roupas podiam ser remendadas, mas não permitiam que ficassem com nó.
_ Não permitiam que passassem com fogo em suas costas, etc.

sábado, 24 de janeiro de 2009

ANGOLA-CULTO AFRO



Candomblé

Candomblé é uma derivação das culturas de religiões africanas, na qual cada uma possui seus fundamentos, preceitos, deuses e demônios; mas que a finalidade sempre é a mesma, ou seja, cultuar um Deus Independente. Algumas culturas como: Angolão, Angola Paqueta, Congo, Congo de Ouro, Ketu Mussurumim, Ketu Abiku, Alaketo, Gêge, Ijeşa, Nego, Nagô, Cambinda, Efan, Xambá, Catimbó, Cabula, Giro, etc. pertencem ao Candomblé.
A cultura Angola é uma das mais antigas praticada no Brasil, portanto é importante frisar sua organização, fundamentos, preceitos, tudo enfim é digno de apreciação, de crédito, de fé e grande conceito dentro deste conjunto de religiões intitulada Candomblé.

Os Antigos Esteio de Senzala

O esteio de uma senzala de Angola ou como se costuma dizer os fundamentos do barracão era dedicado a LÃ-BURU, ou seja, ao dono da terra, o qual tinha por escravos três espíritos malignos que se chamavam: Zumbi, Gunzumbi e Gangazumbi; estes que eram escravos antropófagos da terra, comiam a carne e roíam os ossos dos defuntos. Os zeladores para terem licença de erguer suas roças eram obrigados a presentear o centro de suas senzalas com um cadáver e ao mesmo tempo ter algo para sua segurança, da casa e dos seus. Este ritual levou a uma série de perseguições contra os zeladores de santo em toda a Bahia e adjacências, pois constantemente havia roubos de corpos nos cemitérios. Pois bem, como não podia deixar de acontecer a justiça através da polícia conseguiu acabar com aquele círculo vicioso, pois para tal circunstancia quem quer que fosse o zelador tinha como fazer suas seguranças sem recorrer a este processo.
Como não conseguiam mais os corpos no cemitério passaram então a apanhar seus eguns (alma dos mortos) em uma moeda de cobre e assim subjugá-los às práticas que achavam por bem fazer. Entre elas, a de plantar os eguns no barracão sem que para isso tivessem que recorrer ao roubo de cadáveres. Quando então muitos começaram a usar este material para convencer o egum a aceitar um perispírito negativo para fazer corpo e alma do Exu, para isso era preciso: a moeda com ele; um bambuzal de qualidade; azocrim; azougue; pimenta da costa, outros tipos de pimenta; limalha de ferro, aço, cobre, metal, bronze; carvão de pedra, enxofre, galo preto, um pombo preto ou uma ferramenta que indicasse o exu em questão.

Depois de vinte e um dia o zelador trazia para sua roça todos estes materiais, obedecendo a uma ordem. Dentro do gomo de bambu era então enterrado sob o assentamento de “Exu” e era o egum representado ou pelo ferro ou pelas ferramentas apropriadas. Oferecia-se então uma festa com sacrifícios de bode preto, galos pretos, pombos pretos e comidas secas mais cachaça, velas, charutos, etc. Isso sem deixar de cumprir com suas mais sérias promessas para convencer o espírito a se aderir a tal sistema de vida. Entre essas promessas a de dar liberdade total a estes espíritos nos seus dias de festa. Como as festas de máscaras na qual davam o nome de afoxé, esta que para muitos é uma distração ou um desabafo para seus cansativos dias de trabalho durante todo o ano de luta pela sobrevivência, dando para isso o nome de carnaval que para os zeladores de santo eram os dias de lazer de seus escravos, eram os dias dos eguns, dos exus; quando então tinham como principio colocarem seus afoxés na rua, quatro dias antes da festa de máscaras para só os recolherem na quarta feira de cinzas à meia noite para os preparativos da festa dos mesmos.

Inkisses de Angola

A simplificação dos nomes destes inkisses (oríşas em Yoruba, Vodun em Gêge), nunca foi lógica dentro do autêntico âmago da cultura. Desde a chegada das primeiras caravelas quando tiveram início à chegada de escravos ao Brasil e com eles seus inkisses, os quais eram chamados:

Angola Yorubá
Lembá Oshala
Roxo Macumbo Ògún
Tananin Oshossi
Zaze Quendenbala ou Kassubetá Şàngó
Bamburucura Yansan
Dandabunga Yemaja
Nana-Iacô Nanan
Viango Omolu
Catende Ossain
Camba-Lacinda; Rere Izaquitala Òşun
Lã-Buru (Pó em outras culturas)

Existem ainda muitos outros nomes dentro desta cultura, fazendo assim jus a aderência de muitas outras culturas a este nome de Angola.
Assim eram chamados os santos primitivos. Os escravos (exus) eram chamados de Bombogira ou Aluvaia.
Exu é o principal ponto de partida para todos os princípios espirituais, nada se faz sem que antes tenha se dado a eles a parte que lhe é de direito. Isso sem distinção dessas ou daquela obrigação, oferenda; tanto para alguns dos mais antigos da casa, como para as pessoas que viessem a precisar dos cuidados espirituais através da mesma.
Assim sendo as pessoas em estado de iniciação dentro da cultura do candomblé (abiãs) que são o princípio de um todo, nunca poderiam fugir a regra, teriam primeiro que agradar Exu.
Então obedecendo às regras, lá estava o pessoal da casa às voltas com as obrigações para Exu, obrigações esta que davam o nome de “venda dos escravos”. Esta festa como diziam os mais velhos era uma festança de muitos para o bem de um só, desde que este “um só” compreendesse e entendesse futuramente o significado de tudo aquilo. As festas para compra dos escravos eram feitas geralmente um mês antes do recolhimento do yawo, quando então no meio da festa o zelador virava os inkisses de seus filhos, tanto fazia ser abiã como yawo, todos viravam no santo, porque naquela época todos os zeladores tinham o costume de usar uma toalha para enxugar os inkisses dos filhos ou para recolher uma cura de todos os santos que raspavam. Essas toalhas eram usadas para virar os inkisses de seus filhos todos de uma só vez, passando com a mesma sobre todos em círculo no barracão quando então suspendiam os inkisses dos que já eram feitos e dos abiãs que não iriam se recolher, deixando assim apenas os que estavam prontos para se recolherem. Depois cantavam para que os inkisses subissem e ali deixassem os êres para prosseguirem com a cerimônia da compra de escravos. Logo que os êres chegavam saíam correndo do barracão para se esconderem. Coisa esta que faziam bem feito, dando assim muito trabalho para serem achados. Minutos após eles terem sumido o zelador avisava que quem quisesse participar da brincadeira podia sair e procurar os êres e que aquele que o encontrasse e o trouxesse consigo ao barracão seria o comprador do escravo daquele santo e, por conseguinte o seu padrinho. O padrinho do santo do, o padrinho do yawo, sendo dali por diante obrigado a participar de todas as cerimônias da feitura do mesmo e ao mesmo tempo tendo que oferecer o bicho de quatro patas e algumas coisas mais para o santo de seu afilhado.
De 1935 à 1955, tempo pelo qual nasci, me criei e me iniciei convivendo com várias senzalas pertencentes aos negros de minha família, o culto do Angola era assim:


1) O iniciado com sete ou quatorze anos da primeira obrigação e cura, iria se recolher para fazer o santo. Era levado a sete senzalas para que os curandeiros ou os zeladores confirmassem o santo que estava para ser feito. Embora não houvesse motivos para dúvidas, pois a primeira obrigação feita ao nascer à criança era para prepará-la para tudo que houvesse de existir de ruim na vida futura da criança como para saber qual o inkisse que ia reger a mesma.

2) Tanto o iniciado como os animais que iam ser sacrificados tinham que passar em sete águas correntes às 4 horas da manhã, antes de começar o banho (maionga) para purificação dos corpos de ambos.

3) A primeira coisa a ser feita era a venda de escravo, esta dedicada a encontrar um padrinho para o santo e através do santo deste padrinho se conhecer o escravo a ser assentado, para o santo do iniciado.

4) Com o assentamento do escravo; o zelador já devia ter em seu poder um egun subjugado para fazer parte da vida neutra do iniciado (vida neutra = poder da maldade ou três segundos de excesso de loucura que vive sufocado em todo ser). Quando então, dali por diante, o yawo teria onde desabafar suas mágoas, raivas além de poder mandar algum espírito cobrar por ele, sem que o mesmo se exponha; tanto das suas vitimas em questão, como as leis dos homens.

5) Tudo pronto do escravo era a vez do inkisse. Trabalho para o capitão do mato e a yámoro. A colheita das ervas de cada santo: três ervas do inkisse a ser feito; três do juntó e sete ou três de Lemba (Oshala) como cobertura.

6) Preciso salientar aqui que o recolhimento de Angola era de nove meses, sendo seis dentro do ronkóientar aqui que o recolhimento de Angola era de nove meses, sendo seis dentro do roncra ser feito.erimonias ura de todos os san e três no barracão, então o yawo ia aprender a fazer seus apetrechos para a saída do inkisse e suas orações que se chamava “Angôrossi”.

7) Passados os três meses de recolhimento era chegado o grande dia, a primeira saída, esta, porém feita antes da catulagem. Geralmente esta cerimônia começava às seis horas da tarde quando então os combandos começavam a tocar as engomas (os atabaques) e a entoarem os cânticos de abertura da casa, para depois cantarem para todos os inkisses, a yámoro começar a cantar esta toada: entarracao

Monzenze, mozenze
Catula gira a yawo
Monzenze catula gira
Cadê tateto monzenze catula gira
Cadê mameto

Então o zelador de santo saía do ronco com as abiãs ou futuros yawos, do jeito que estivessem recolhidos e ainda sem terem feito nenhuma obrigação desde que foram recolhidos. Davam três voltas no barracão, dando jinká na porta da rua, nos pés das engomas, na porta do ronco e na porta do quarto do santo, daí regressavam ao ronkó para entregarem seus cabelos ao seu inkisse.
O zelador se recolhia com os yawos, onde já estava os esperando as pessoas do runtó da casa, capacitados para ajudá-lo, assim como três ou quatro zeladores de outras roças para assistirem as cerimônias a serem realizadas naqueles abiãs e futuramente dar-lhe votos de fé e confiança perante o público que ali estava; mais um futuro zelador de santo digno de toda fé pública.

8) Todos os zeladores visitantes seguravam cada um, uma das coisas a serem empregadas nos santos a serem feitos. Ao mesmo tempo orgulhosos de saberem que estavam na presença de um verdadeiro zelador de santo que nada tinha a esconder, pois era consciente do que iria fazer e não haveria quem não lhe desse crédito de seus atos. Procediam assim: um segurava a urupemba, outro o obetam, o obérece, outro os contra-eguns, as senzalas, o kelê, as miçangas, o xaorô, o mokã todos prontos para a catulagem. E mais o bêro, a macassaporonga, macassá, a erva-tupi, o dandá, o azeviche, o paxolim, o begerim; todos estes ingredientes ralados é que se fazia o pó para curar, e ainda o obí, o orobô, a lobaça etc. Enquanto isso o zelador de santo preparava as dilongas (prato de ágata) para colocar o otá do santo, e providenciava o sacrifício dos animais, estes todos brancos por ser este primeiro sacrifício dedicado a Oshala. Então começavam a catulagem com esta cantiga:

Ê aê aê com senze catula gira o yawo
Ê aê aê com senze catula gira o yawo
Ê aê aê com senze catula gira o yawo

Quero salientar também que era chamada a atenção dos zeladores visitantes para os preparativos que estavam sendo feito para que eles lembrassem algo que por acaso vissem que estava sendo feito errado ou não tivesse sido feito. Naquele recinto não poderia existir retraimento, mas sim o saber, a ciência, a compreensão e a fé, o que era mais importante.
Terminada a catulagem e os sacrifícios de animais todos que estavam dentro do ronkó colocavam uma coisa no yawo, o que para o zelador de santo dono da casa era uma grande satisfação, e para o inkisse uma grande honra receber os exés das mãos de um zelador de outra roça. É bom frisar que os zeladores visitantes eram sempre mais antigos de santo que o dono da roça em questão. Feita esta cerimônia traziam o yawo com tudo em cima para o barracão com esta cantiga.

Yawo berê ke onã oia
Yawo berê ke onã oia oia
Yawo berê ke onã oia oia

Seguia os cantos e as danças dedicados a Oshala e o santo catulado, até o zelador dar-se por satisfeito, quando o alabê cantava:

Vamos kerê ke banda cozo
Tata ke amê

Encerrando a cerimônia, por mais três meses, tempo este em que o yawo tinha que aprender as rezas, os cânticos, as danças, grande parte do dialeto usado na roça.



A Jura

A Jura era uma cerimônia muito importante, porque neste ato os próprios inkisses “juravam” obediência e fidelidade para os mais velhos e para aqueles que dali por diante serão os seus padrinhos aqui na terra, não permitindo que seus filhos se desviassem por outros caminhos que não sejam citados e jurados perante seus superiores, deixando que seus padrinhos arcassem com as conseqüência de seus erros*. As pessoas que eram destinadas a serem padrinhos e madrinhas de algum santo tinham por obrigação acompanhar toda a criação do yawo, porem, sem entrar no ronco, a menos fossem pessoas feitas e aptas para qualquer fim dentro da cultura além de serem ao mesmo tempo destacadas ou privilegiadas na compra dos escravos dos santos a serem feitos.
Para a feitura do inkisse, caso este alguém não pudesse fazer estas oferendas, teriam que “vender” seus direitos a quem pudesse, ou melhor, não deveria nem participar da procura dos êres, que era a cerimônia da compra dos escravos do santo e a procura do padrinho para o mesmo. A bem da verdade o que poderia parecer uma brincadeira era uma coisa muito séria para vida futura do yawo, e para o progresso daquele que por ventura tivesse a graça de ser seu padrinho.

*É provado que quando o yawo foge as regras citadas para serem cumpridas por ele e sendo as mesmas juradas pelos seus oríşás, inkisses ou voduns, só os seus padrinhos pagam por eles, esse fato é tão meticuloso que só mesmo os verdadeiros observadores podem notar porque algo não vai bem para alguém que serviu de padrinho para o santo de algum yawo. Talvez por isso, que hoje em dia é difícil encontrar alguma roça que pratique este ritual.


O Lava Pés

Existia na cultura de Angola um ritual chamado “lava pés” de yawo.
O culto de Angola era fundamentado no fato que o yawo tinha que conviver durante sete dias dentro da mata, totalmente entregue aos seus próprios instintos e sentidos de direção. Cuidava de arranjar seus próprios alimentos, procurando locas ou cavernas para se abrigarem nas noites, isso porem era para o yawo se adaptar com a vida da mata e com a solidão, digo solidão, pois dificilmente soltavam-se vários êres na mata, para que eles andassem juntos, querendo assim dar a impressão que estavam fugindo de algo ou alguém, ou mesmo fugindo de si próprio. Ou ainda que estivessem com medo estar a sós com os espíritos residentes nas matas. Muito pelo contrário cada êre tomava seu rumo para procurar um meio prático para sua sobrevivência, só se encontrando nas horas marcadas pelos seus criadores, geralmente apontavam um pé de murici ou cajarana, ou ainda outras árvores de fácil localização para o encontro que deveria ser sempre às dezoito horas e as quatro horas da manhã, para as rezas do angôrossi e para os banhos, antes que do sol esquentar. Nesta hora os ogãs com os atabaques debaixo das árvores indicadas começavam a tocar e cantar chamando-os.
Muitas vezes eles se reuniam por vontade própria, para poderem planejar a invasão de roças, que por acaso algum deles tivessem encontrado. Combinavam então, em colher raízes, frutos, frutas como aipim, batatas, abóbora, bananas, cana, etc. O importante era que não faltasse alimentos até o fim de suas estadias por ali.
Quando algum adoecia, seus criadores ensinavam as folhas e as raízes com as quais ele tinha que fazer seus próprios remédios e banhos. Tornando assim uma maneira prática de se curar e aprender ao mesmo tempo.
Terminado este período era a hora de voltar para sua senzala, cada um com seus sacos contendo ervas com as quais seria feita a cama do santo e, por conseguinte, sua cama.
Como neste período tinham aprendido a cantar e dançar, pois mesmo onde estavam tinham todo o ensinamento e; para que não se esquecessem dava-se a festa do “lava-pés”, na sua chegada.
Esta festa consistia em se certificar de que o yawo não tinha sentido a mudança do mato para o barracão. Estando no mato, sob sua proteção, e ao vir para a casa, poderia ser influenciado por espíritos estranhos que viessem a prejudicar o yawo. Daí o motivo da festa, satisfeito os criadores viravam o inkisse do yawo e começavam a cerimônia do “lava-pés”.
Escolhidos os padrinhos para cada inkisse, estes seguravam as bacias contendo o banho da sabedoria, enquanto outra pessoa, ou seja, a madrinha lavava e enxugava os pés do inkisse, ou ainda outra pessoa segurava para ambos os padrinhos lavarem. Terminada esta cerimônia, iam para o ronco para serem batizados e começarem a se prepararem para os dias seguintes.

Sacrifício para os Inkisses de Angola

No dia do nome do inkisse, na hora do ritual, é que se fazia o sacrifício. Porém antes de sacrificarem os animais era necessário fazer a primeira saída ao barracão, quando então o inkisse incorporado no yawo dava o jinká em certos pontos. Quando yawo saía do ronkó seus padrinhos, mãe pequena e yawos já graduados também saiam para acompanhar o yawo carregando os animais que vão ser entregues ao inkisse. Depois de darem a volta pelo barracão retornavam ao ronkó para dar início aos sacrifícios, enquanto isso a festa no barracão continuava.
Até para os sacrifícios existia uma regra: o padrinho segurava nas patas traseiras dos animais e a madrinha na pata dianteira, enquanto que o zelador segurava na cabeça para o alabê possa cortar, ou então o próprio zelador sacrificava o animal e a mãe pequena ficava na organização dos atos.
Cruzava-se o yawo com os animais, batendo a cabeça deste na testa yawo três vezes, pra daí fazer o sacrifício. Em hipótese nenhuma o animal poderia ser arriado antes que sua vida se acabasse, quando então começavam o sacrifício dos animais de dois pés. Estes sacrifícios eram feitos diretamente em cima do yawo, sem vasilha para aparar nada. Se por acaso eles quisessem um pouco do sacrifício, usavam uma vasilha também no alto, mas nunca arriavam o animal por qualquer motivo.

Saídas

Depois de todo o sacrifício, rodavam os animais em volta do yawo três vezes passando por todos os que participaram daquele ato. O yawo então era preparado para mais três saídas:
1. Do adobá com todos os sacrifícios em cima.
2. Do jinká o yawo era pintado com bolinhas de várias cores trazendo um determinado sinal de seu inkisse pintado em sua cabeça, da seguinte forma:
Tananim (Oshossi) _ trazia um formato de arco e flecha ou uma folha.
Roxo Macumbo (Ògún) _ trazia uma cruz.
Zaze Quendembala (Şàngó) _ três cruzes ou uma pena.
Viagô (Omọlu) _ vários círculos com uma cruz.
Lembá (Oshala) _ trazia a cabeça toda branca, mas sem que com isso deixasse dtrazer uma espécie de duas penas cruzadas.
Bamburucura (Yansan) _ trazia três círculos com uma bolinha em cada.
Dandabunga (Yemaja) e Camba-Lacinda (Òşun) _ traziam uma espécie marinha, porém tudo entremeado por bolinhas nas cores de cada uma.
3. Da digina (nome). Aqui temos o inkisse pronto para dar o nome na praça.

Orupi

Um tabuleiro forrado com uma toalha branca com folhas, o mokunã do yawo no meio, a cabeça do quadrúpede sacrificado para o inkisse em cima. Muito milho branco por cima de tudo com mel, e as outras comidas e exés sobre a mesa. Todas obedecendo a uma ordem, arrumando-se isto, tudo coberto com muita pipoca e enfeitado com penas. As folhas nas quais o yawo esteve deitado no seu tempo de recolhimento eram colocadas na esteira usada por ele, enrolando as isabas (folhas) nesta e assim está pronto o orupi para ser entregue no lugar de direito do inkisse e escolhido por este, através do jogo de búzios, ou em um lugar tradicional da roça. Arrumado o orupi era posto na porta do barracão ou do ronkó para que os yawos darem adobá e rezarem o angôrossi para sair. Quando então o yawô carregava o orupi do seu inkisse na cabeça, e lá chegando arriavam o carrego, batiam o paó e rezavam o angôrossi, antes de entregar ao rio ou ao mar ou ainda nas matas os seus carregos e só aí estavam prontos e podiam dizer que estavam com seu inkisse bem feito e sem nada faltar.

Quitanda

Sete dias após a festa do nome de santo, se fazia a “quitanda dos êres”. Este ritual era feito com muitos doces, frutas, comidas de santo, farofas, bolinhos dos mais variados e o tradicional atori (vara de madeira) para castigar os que tentassem roubar suas comidas sem pagar.
Antes de começar as mães pequenas davam duas voltas no quarteirão, onde está localizado o barracão, mostrando as encruzilhadas para os yawos, quando eles chegavam ficavam abaixados para bater o makó (palmas) para Exu em agradecimento por terem proporcionado a paz, a tranqüilidade, desde sua entrada no barracão até a a saída do inkisse. Davam três voltas sobre esta lentamente, jogando o corpo para um lado e para o outro como se tivessem em transe, depois voltavam para o barracão, onde estava tudo pronto a espera deles para começar a quitanda. Os yawos ao chegarem da rua eram recolhidos ao ronkó para trocarem suas vestes e serem virados nos santos e depois nos êres. Saiam do ronkó com todos seus pertences, davam uma volta no barracão e voltavam para o ronkó para depois saírem com seus tabuleiros de comidas, dançando sob a direção da mãe pequena, com os cânticos apropriados para o ritual. Na frente vinha uma ou duas yatabaxé com as dicissas (esteiras) e os atoris. Após terem dançado e cantado, os tabuleiros eram postos em cima das dicissas em um canto do barracão onde os êres sentados tomavam conta de seu tabuleiro. Cada êre com seu atori, era a hora então de dar início a vendas das bugigangas e comidas. Enquanto os êres negociavam suas mercadorias os outros yawos e o runtó da casa dançava e cantava. Nesta festa muitos compravam, outros roubavam e muitos levavam pancadas, mas tudo em harmonia. Por fim, tudo vendido e roubado, pelo povo presente, inclusive os tabuleiros e dinheiro, a mãe pequena perguntava aos êres tinham autorização para venderem aquelas mercadorias, se tinham nota fiscal, etc. Enquanto isso alguém da casa dizia que eles eram clandestinos, que estavam fora da lei e ia chamar a polícia. Os êres tentavam fugir, mas davam de encontros com policiais, daí então iam embora dando lugar ao inkisse que ficavam espalhados no barracão. E assim são recolhidos a um canto esperando que o runtó dissesse aos ogãs para cantarem o xirê para eles, depois do xirê de cada inkisse presente encerrava-se a festa. E sendo assim mais um capítulo na vida dos novos yawos e com ele o progresso do inkisse, bem como a elevação na hierarquia espiritual.

Fim do Recolhimento

O yawo depois que saía do ronkó com seus pertences e os do seu inkisse, mantinha todo o requinte do mais humilde dos servos de seu inkisse, de seu barracão. O povo de Angola não tinha por tradição a roupa branca, se não para alguns rituais internos; fora disso a primeira característica era os pés no chão, a segunda era suas cabeças cobertas, suas miçangas descobertas com seu pano da costa cobrindo seu pescoço, sua roupa estampada combinando com as cores de seu inkisse, trazia um atakã amarrado na cintura onde trazia enfiada sua dilonga (prato de ágate), seu dilongá (caneco de ágate), e às vezes em uma bolsa uma moringa d’água. Trazia sua cabeça sempre baixa, onde quer que estivesse. Não fazia parada pelo meio da rua; não fazia e nem recebia visita. Não entrava onde não era permitido para pedir ou comprar qualquer coisa. Para onde quer que ande, seu zelador ficava sabendo através do seu xaorô, pois este não parava de tilintar o tempo todo.
Os yawos geralmente ocupavam todo o seu tempo de kelê vendendo algo que pertencesse ao seu inkisse como:
- Yawo de Roxo Macumbo (Ògún) vendia: farofa de frango, camarão ou acarajé.
- Yawo de Tananim (Oshossi): farofa de frango e frutas.
- Yawo de Zaze Quendembala (Şàngó): fatos, acará, peixe, acarajé.
- Yawo de Bamburucura (Yansan): acarajé, abará, acará.
- Yawo de Viangô (Omolu): mocotó, cuscus, acarajé, verduras.
- Yawo de Dandabunga (Yemaja) bolinhos diversos, cocada.
- Yawo de Nana-Iacô (Nanan): cuscus e arroz doce.
- Yawo de Lembá (Oshala): lelê, mungunzá, acaçá.
- Yawo de Catende (Ossain): ervas diversas.
- Yawo de Camba-Lacinda (Òşun): arroz doce e rolete de cana.
- Yawo de Tempo vendia: comidas diversas.
Agindo assim todos aqueles yawos tinham a certeza de estarem participando da vida histórica de seus inkisses e assim fazendo os agradava cada vez mais. É importante frisar que tudo isso era feito sem taxar preço, pois isso não era a título de comércio e sim por questão de ética.

As Festas do Povo da Rua

Era um unge feito com três costelas tiradas das cabras dos inkisses femininos. Depois que levantavam as obrigações fazia-se a festa da Lebara com os restos das comidas e as três costelas. Tínhamos o Padê que era feito com a cabeça do boi de Şàngó ou de Ògún. Depois das festas com o que sobrava fazia-se a festa para Exu. Sabemos que para todas as festas e para todos os atos Exu era e será servido em primeiro lugar. Estas festas citadas eram totalmente independentes dos despachos de Ex u, para a segurança da casa.

Afoxé

Festa para fechamento da roça durante a quaresma, iniciando-se no carnaval, ou seja, saíam três dias antes do carnaval e então durante sete dias ficavam pelas ruas e quando terminava o carnaval na quarta-feira de cinzas era feita a festa de Exu. o afoxé era feito com tudo que se ganhava pedindo pelas casas, pelas ruas, pelos terreiros e com que sobrava da festa anterior.