sábado, 25 de abril de 2009

OMULU EM ANGOLA

Omulu ou Viango um dos mais velhos inkisse ou oríşa, hoje cultuado em várias casas de candomblé, independente da nação que o professe, foi um dos primeiros deuses a pisar na Bahia, segundo alguns curandeiros do século passado. O difícil é encontrar uma casa nos dias hoje, que ainda tenha sua cultura obedecendo ao seu primitivismo com seus seguidores se curvando a seus princípios para poderem assim usufruir de seus poderes. A explicação esteja talvez, no cuidado e na responsabilidade de ter este deus em um barracão obedecendo a moldes antigos. Os tópicos a seguir retratam a forma em que este deus e suas qualidades eram cultuados no inicio do século passado. Acredito que a maioria das casas para cuidar destes inkisses atualmente procure se adaptar aos dias de hoje, sem perder a sua essência, é o que espero.

Omulu – Tempo Junso

O mais novo Omulu, conhecido em todos os barracões de Angola em todos os recantos da Bahia. Seus apetrechos se resumiam em uma lança de madeira, medindo entre 40 e 50 cm, feita a haste em madeira de loco e a lança da ponta em iputumuju (que segundo alguns curandeiros esta madeira além de ser nobre era mística). Trazia uma cabaça e um bocapio (uma sacola grande feita de palha) contendo suas bugigangas.
Seu assentamento era conhecido por ter três cabaças pequenas, vinte sete búzios e três lanças (em alguns casos lanças de ferro e outras de pedra). Levava cuscuzeiro, mas não levava massa, sendo obrigatório ter em seu assentamento três moedas de cobre, contendo cada um pouco de plasma colhido de um corpo sem vida.
Suas roupas eram desfiadas nos lugares em que a sua doença apodreceu suas carnes, deixando seus ossos descobertos. Suas cores preta e branca, em alguns lugares usavam o amarelo e o preto. Laguidibá preto.

Omulu – Tempo Junsun

Conhecido nos terreiros dos antigos angolões. Sua bugiganga se resumia a uma bengala feita de loco com a ponta da lança em iputumuju, a qual ele carregava no ombro e nela pendurava sua trouxa de lona com seus segredos e seu material. É de autoria dele o ditado que diz: “o poder da missa afasta os pequenos males de senzala”. Por isso trazia uma cruz sobre o seu chapéu. Era conhecido por trazer no pé dois guizos e no seu assentamento três cruzes, sete lanças e uma bandeira, não podia faltar sete moedas de cobre com egum cada uma. Pegava cuscuzeiro, mas não pegava massa. Sua roupa só eram farrapos nos lugares em que a doença já havia comido suas carnes, deixando a pele e os ossos pintados. Suas cores: preto e branco. O seu laguidibá: amarelo e preto.
Seu assentamento: quatorze alguidares, nove colheres de pau, um porrão. Sua roupa características deveria lembrar um homem carregando algo nas costas.
Suas folhas: cajá, cajarana, cajueiro branco, pode usar as folhas de seus irmãos perfazendo um total de nove folhas e mais a folha primordial para os três: o sangue lavô.

Omulu – Tempo Cavunge

O mais velho dos Omulus, conhecido pelos velhos angolões. Sua bugiganga se resumia a uma bengala na qual trazia pendurada uma trouxa, uma cabaça e um bocapio. Em seu chapéu carregava uma pomba, e tinha outra pousada em sua bengala, que deveria ser apoiada no chão; primeiro pelo peso do material amarrado e segundo para servir de apoio para o peso de seu corpo. Era conhecido por trazer no pé três guizos e seu assentamento conter sete cabaças, sete lanças, três bandeiras simples e um com uma pomba em cima, setenta e sete búzios, quatorze moedas de cobre (com egum em cada uma). Pegava cuscuzeiro, mas não pegava massa. Seu assentamento tinha dezessete alguidares para sua formação pessoal, nove colheres de pau e um porrão. Suas roupas eram todas desfiadas por seu corpo não restando lugar para roupa comum, pois a doença já havia tomado todo o corpo dele. Tinha por contraste um cão gordo para fazer sua vez no que diz respeito à doença. Ele curava o povo e o cão o curava. Suas folhas são três qualidades de carrapicho e o sangue-lavô (cana do brejo). Seu assentamento tinha o formato de um homem com a bengala apoiada no chão e com as bugigangas penduradas.

Obaluayê

Obaluayê, Kajanjá ou Kaviungo um ser atrofiado que desde sua infância se dedicou a vida no cemitério para estudar a morte de todos que fossem pra lá. E assim teria se criado sendo difícil conversar com ele dentro de uma casa. Oríşa raro, pois para se conseguir alguma coisa dele quando possuía uma pessoa, teria que levá-lo para o tempo e acender várias velas ao seu redor e também em quem estivesse junto. Às vezes era preciso cobri-lo com um alá para então se formular algum pedido e também oferecer um presente.
O seu assentamento é muito difícil, pois ele nesta cultura representa o verdadeiro Baba Regun e tem que ser guardado por trezentos e sessenta e cinco eguns, todos em moedas de cobre, uma caveira, nove lanças, nove cabaças, nove punhais, dezenove alguidares, um porrão, quatorze colheres de pau. Tudo para dar o formato de atrofia e mais terra de vários lugares. Em seu pé levava três guizos.
Suas cores: preto, vermelho e branco ou preta e vermelha. Não usava roupas, embora as tivesse, tanto quanto os outros, mas só usava tanga, pois a atrofia atrapalhava para se vestir. Suas f olhas são: dendezeiro, bambuzal e a jaqueira, pois todas as suas folhas são refúgios para egum. Também se complementa com as folhas dos outros Omulus e eles se complementam com as suas dependendo do momento e do ato a ser realizado.
Devo esclarecer que o que está descrito é simplesmente a respeito de Omulu-Viango, pois estes assim eram chamados e conhecidos. E não TEMPO, este como inkisse que também é cultuado em toda Bahia e em outras partes do Brasil, por quem tem conhecimento destes inkisses, que são:
TEMPO LAMBARÁ, TEMPO ZARÁ, TEMPO DA BURIGANGA, TEMPO PEREPEPE, TEMPO MACURA DE LÉ, TEMPO TAPERUÁ, TEMPO Z+Ê.
Tendo ainda em alguns barracões o culto de outras qualidades do inkisse Tempo, possuindo em todas as casas de Angola, uma bandeira branca hasteada em sua homenagem, a qual teria por princípio que estar sobre uma árvore frondosa, além de ter em seus galhos muito enfeites coloridos amarrados. No chão ligado ao seu tronco, o assentamento deste inkisse, que possuía: um fogareiro a lenha, uma grelha trempe com uma haste regular, sobre esta uma bandeira com um pássaro, um pote, uma moringa, três quartinhas, um alguidar médio com uma jarra de barro contendo o otá e outros segredos. Sem contar com setenta e sete ides, trezentos e sessenta e cinco búzios, setenta e sete moedas de cada metal, obi, orobo, jalapa e dendê. Todo este assentamento, colocado sobre porrão vestido com todas as cores, pois este inkisse representava tudo, porque para tudo se precisa dele. Quero salientar que muitos barracões cultuavam este deus com menos material que o descrito, porém tendo para isso um quarto reservado a Tempo e representado por um galo arrepiado e outros objetos.
Em relação a feitura, este inkisse era e é muito complexo.
Primeiro: em mil pessoas se encontra um que seja realmente dele.
Segundo: não se pode contar com abrigo nenhum, pois terá que ser feito sob o tempo, embaixo de uma árvore que combine com o mesmo.
Observação: Não confundir Omulu de origem bantu com Omolulu de origem sudanesa.
Devo esclarecer também que a respeito do egum nas moedas de cobre: os curandeiros sempre colocavam uma moeda de cobre na boca de uma pessoa moribunda porque assim tinham a certeza que a moeda de cobre absorvia o ectoplasma dessa mesma pessoa em seus momentos finais. O processo de multiplicar essa moeda para a quantidade desejada é um segredo do culto a estes inkisses.

2 comentários:

  1. É muito bom poder obter esse antigo conhecimento, com plena confiança de um mestre como o Pai.

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  2. Não consigo compreender a confusão que fazem entre os deuses bantu e Orixás. Inkisse não é o mesmo que Orixá. No culto angola pressupoe culto aos Inkisses, Dado que se a casa for de raíz x ou y aí pode a coisa um pouco mudar de figura, caso contrário, em casas onde há a mistura, que por si só deturpa um patrimônio cultural, não como considerar de outra forma, senão, angola como culto a Inkisses. Exemplo; Lembá Dilê, não é o mesmo que Osogyian.

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